As Crônicas de Nhô Quim Drummond
Nhô Quim Drummond
quinta-feira, 15 de março de 2018
quarta-feira, 14 de março de 2018
O Teatro em Sete Lagoas IV
Coluna Piquetes - Jornal Mensagem 28/01/1959
Joaquim Dias Drummond
“O Poder do Ouro” teria
constituído o ponto máximo da trajetória artística do João Caetano, se o cano
de ferro não tivesse ameaçado a integridade física do Galdino Moura.
O susto fora enorme. Ante o perigo iminente de um impacto de imprevisíveis consequências, nenhum “defunto” aguentaria, por maior que fosse seu amor à arte. O Galdino mandou muito bem. O poder do ferro jamais poderia suplantar o Poder do Ouro, privando tragicamente o João Caetano de uma das suas mais promissoras revelações.
O Galdino iria longe no culto de uma arte que começava a projetar alguns valores em nossa terra. Os dias foram passando lentamente e os comentários em torno da “ressurreição” diminuindo ao mesmo ritmo. A expectativa voltava-se para o próximo espetáculo do Melanciense cujos ensaios prosseguiam animados de portas fechadas.
O ator Palhares esmerava-se no apresto das últimas providências. O Milagre de Santo Antônio era peça de grande montagem, e por isso mesmo, exigia o concurso de outros amadores que não figuravam no nosso conjunto artístico. O recrutamento fora feito com o cuidado exigido pelas nossas responsabilidades.
Esteves, o “galã da companhia” estava soberbo no seu complicado e difícil papel de Lúcifer. Alzira de Freitas deslumbrante na sua encarnação do anjo Gabriel. José Meirelles fazia uma ponta, como se diz em linguagem teatral, mas tinha a sua responsabilidade definida: -velava pela integridade moral da ingênua, confiada à sua guarda.
Como quase todos os brasileiros valorizava o produto nacional. Tomava a sua “providência” em doses homeopáticas, mas gostava dela. No dia do espetáculo ele se excedera em suas libações, mas jamais poderíamos que viesse a comprometer o desempenho da peça em seu conjunto.
A aparição de Lúcifer, cuspido inopinadamente de um alçapão acionado a muque era precedida de forte estrondo, e o gênio do mal sorria envolto em uma nuvem de fumo e de fogo. Em tal momento o Meirelles que velava pela sorte da Donzela teria que dar um grito estarrecedor e fugir apavorado, propiciando entrada triunfal do anjo Gabriel.
Mas o Meireles não se assustou com a barulhenta aparição de Lúcifer. Tirou uma linha nele. Bamboleante caminhou em sua direção, e batendo-lhe nas costas, disse-lhe com a voz arrastada: ̶ Olá seu diabo como vão as comidas lá pelo inferno?
Foi a conta. Lúcifer estranhou aquela camaradagem e agarrando Meireles pelo cos das calças o retirou de cena aos trambolhões. A plateia delirou pensando que aquilo era da peça. Nós suávamos frio por detrás dos bastidores. O João Caetano exultava com nosso insucesso. Estava vingado.
Em clubes de amadores sempre houve e haverá dessas coisas. São inevitáveis e só não as perdoa, os amantes da mesma arte, desde que militem em campos opostos.
Os Melancienses não podiam sair à rua sem que ouvissem a cada passo o comprimento escárnio: ̶ Olá seu diabo, como vão as comidas? Aquilo já nos enchia com x maiúsculo como dizia um velho torcedor do Metalusina. Com o correr do tempo e a esponja mágica que limpa o quadro negro da vida, tudo foi sendo esquecido, e os clubes entraram em decadência.
Américo Esteves e os filhos mudaram-se para Belo Horizonte. Alzira de Freitas casara-se com Ataíde Murce, e deixou de ser o Anjo Gabriel para ser o anjo do seu lar. Sulfumiro de Freitas foi buscar em Montes Claros aquela que seria a sua fiel cara-metade.
Nós que participamos ativamente destas lutas e competições sem ódio e sem rancores, continuamos a nossa caminhada então ao lado de João Andrade, únicos remanescentes das duas agremiações que marcaram uma época feliz de nossa terra. Não fomos os melhores mas conservamos sempre acesa a flama de entusiasmo que passamos às novas gerações.
O susto fora enorme. Ante o perigo iminente de um impacto de imprevisíveis consequências, nenhum “defunto” aguentaria, por maior que fosse seu amor à arte. O Galdino mandou muito bem. O poder do ferro jamais poderia suplantar o Poder do Ouro, privando tragicamente o João Caetano de uma das suas mais promissoras revelações.
O Galdino iria longe no culto de uma arte que começava a projetar alguns valores em nossa terra. Os dias foram passando lentamente e os comentários em torno da “ressurreição” diminuindo ao mesmo ritmo. A expectativa voltava-se para o próximo espetáculo do Melanciense cujos ensaios prosseguiam animados de portas fechadas.
O ator Palhares esmerava-se no apresto das últimas providências. O Milagre de Santo Antônio era peça de grande montagem, e por isso mesmo, exigia o concurso de outros amadores que não figuravam no nosso conjunto artístico. O recrutamento fora feito com o cuidado exigido pelas nossas responsabilidades.
Esteves, o “galã da companhia” estava soberbo no seu complicado e difícil papel de Lúcifer. Alzira de Freitas deslumbrante na sua encarnação do anjo Gabriel. José Meirelles fazia uma ponta, como se diz em linguagem teatral, mas tinha a sua responsabilidade definida: -velava pela integridade moral da ingênua, confiada à sua guarda.
Como quase todos os brasileiros valorizava o produto nacional. Tomava a sua “providência” em doses homeopáticas, mas gostava dela. No dia do espetáculo ele se excedera em suas libações, mas jamais poderíamos que viesse a comprometer o desempenho da peça em seu conjunto.
A aparição de Lúcifer, cuspido inopinadamente de um alçapão acionado a muque era precedida de forte estrondo, e o gênio do mal sorria envolto em uma nuvem de fumo e de fogo. Em tal momento o Meirelles que velava pela sorte da Donzela teria que dar um grito estarrecedor e fugir apavorado, propiciando entrada triunfal do anjo Gabriel.
Mas o Meireles não se assustou com a barulhenta aparição de Lúcifer. Tirou uma linha nele. Bamboleante caminhou em sua direção, e batendo-lhe nas costas, disse-lhe com a voz arrastada: ̶ Olá seu diabo como vão as comidas lá pelo inferno?
Foi a conta. Lúcifer estranhou aquela camaradagem e agarrando Meireles pelo cos das calças o retirou de cena aos trambolhões. A plateia delirou pensando que aquilo era da peça. Nós suávamos frio por detrás dos bastidores. O João Caetano exultava com nosso insucesso. Estava vingado.
Em clubes de amadores sempre houve e haverá dessas coisas. São inevitáveis e só não as perdoa, os amantes da mesma arte, desde que militem em campos opostos.
Os Melancienses não podiam sair à rua sem que ouvissem a cada passo o comprimento escárnio: ̶ Olá seu diabo, como vão as comidas? Aquilo já nos enchia com x maiúsculo como dizia um velho torcedor do Metalusina. Com o correr do tempo e a esponja mágica que limpa o quadro negro da vida, tudo foi sendo esquecido, e os clubes entraram em decadência.
Américo Esteves e os filhos mudaram-se para Belo Horizonte. Alzira de Freitas casara-se com Ataíde Murce, e deixou de ser o Anjo Gabriel para ser o anjo do seu lar. Sulfumiro de Freitas foi buscar em Montes Claros aquela que seria a sua fiel cara-metade.
Nós que participamos ativamente destas lutas e competições sem ódio e sem rancores, continuamos a nossa caminhada então ao lado de João Andrade, únicos remanescentes das duas agremiações que marcaram uma época feliz de nossa terra. Não fomos os melhores mas conservamos sempre acesa a flama de entusiasmo que passamos às novas gerações.
terça-feira, 13 de março de 2018
O Teatro em Sete lagoas III
O dia em que o morto ressuscitou em cena.
Jornal Mensagem – Coluna Piquetes 21/01/1959
Jornal Mensagem – Coluna Piquetes 21/01/1959
Joaquim Dias Drummond
Como dissemos em nossa última crônica:
à diplomacia do Zé Lolô ficamos a dever o que o que os nossos reiterados
esforços não conseguiram alcançar. Ele era secretário do Agente Executivo
Municipal e isto lhe dava uma parcela de autoridade.
O Teatro passou a ser um bem
comum dos dois grupos dramáticos que porfiavam em proporcionar a Sete Lagoas
bons espetáculos.
As recitas se sucediam
alternadamente e pouco a pouco foi engrossando de cada lado, o número de
torcedores. A rivalidade era grande e os choques de opiniões criavam clima
propicio para discussões acaloradas. Os componentes de um grupo, para
assistirem aos espetáculos do outro disputavam as primeiras filas de cadeiras,
e de lápis em punho, anotavam as gafes que ocorriam durante as representações para
depois comentá-las com sarcasmo.
A crítica era severa e aos rivais
não se perdoava o menor deslize. Isto porem, longe de levar o desanimo as
hostes adversarias, constituía um estimulo de reciproco proveito.
O teatro evoluía. Os ensaios constituíam
verdadeiras aulas práticas de dicção, de atitude, de gestos. Boa escola,
indiscutivelmente. Alguns amadores já se compraziam em imitar autênticos atores,
raspando os bigodes e deixando crescer fartas cabeleiras, esmeradamente
tratadas. Contudo, faltava-nos alguma coisa.
No futebol, jamais poderá haver
progresso de técnica, se o time não tiver um treinador competente. No teatro de
amadores sucedia o mesmo. Um ensaiador hábil era, por isto mesmo, disputado a
bom preço. Isto compreendeu logo o grupo “Melanciense” que conseguiu por intermédio
de um amigo de Santa Luzia, o concurso do velho e grande ator português Antônio
Palhares.
A nova rebentou como uma bomba de
retenção, no campo de nossos adversários. Subestimavam o valor de tal
cooperação. A ator Palhares, diziam, era demasiado velho e certamente “não
daria no couro”. Queriam ver o que de novo poderíamos apresentar.
Surdos a tais clamores,
ensaiamos, discretamente, peças de grandes montagens, como “Os Milagres de Santo
Antônio”, “José do Telhado” e “Gaspar, o Serralheiro”, delas participando com
retumbante sucesso, o grande ator Palhares. Seria desnecessário acrescentar
que, a essa altura dos acontecimentos, a rivalidade atingiria seu ponto máximo.
Previmos desde logo, que a reação não se faria por esperar.
O Grupo “João Caetano” iniciou os
ensaios do notável drama “O Poder do Ouro”. A propaganda foi feita em grande
estilo. O Teatro superlotou. Plateia, literalmente cheia, camarotes e
torrinhas, apinhados. Nós do “Melanciense”, lá estávamos, nas primeiras filas.
Grandes e pequenos acorreram ao Teatro. Autentica noite de gala. A ansiedade
aumentava de momento em momento.
Executada a sinfonia que precedia
os grandes espetáculos, o pano de boca foi levantado, lentamente. Naquela época
ainda não se usavam as cortinas, de fácil manejo. O nosso pano, para se manter
bem estendido, tinha guarnecido, na parte inferior, um cano de ferro de uma
polegada.
Pesava, de fato. Na peça, o João
Andrade representava o papel de ferrenho adversário do Galdino Moura,
interpretando outro personagem. Odiavam-se, mutuamente. O encontro entre ambos
seria fatal, e realmente foi. Após acirrada troca de desaforos, o João fuzilou
o Galdino, a queima-roupa. Queda bem ensaiada. O Galdino cambaleia, avança, retrocede
e cai estatelado no tablado. Estava morto! A plateia aplaude delirantemente os
amadores e o pano desce como um raio. Galdino, que “morrera” de costa, percebe
a iminência do perigo e levanta-se, de um salto. É que, ao cair fizera-o sem
pensar na posição do cano de ferro. Este particular não fora previsto, os
ensaios prolongados.
Uma gargalhada estrepitosa, pôs
fim ao grande espetáculo. O morto ressuscitara! ...
E o “Melanciense”? Bem, o nosso
dia também chegaria...
segunda-feira, 12 de março de 2018
O Teatro em Sete Lagoas – Dois
Jornal Mensagem - coluna Piquete - 14/01/1959
Augusto Fernal deixara,
em nossa terra, um traço marcante de sua personalidade artística. O seu “Fantasma
Branco” provocou muitas noites de insônia e permaneceu, por longos meses, como
assunto obrigatório de todas as rodas.
Velhos e moços comentavam
o sucesso de sua temporada e não faltou quem se animasse a enfrentar a difícil arte
de Thalia, (Talia; "a alegre", era
uma das nove musas da mitologia grega, filhas de Zeus e Mnemósine, filha de
Oceano e Tétis. Era a musa da comédia. Era representada com uma máscara cômica
e por vezes com uma coroa de hera. Tália a festiva).
Organizou-se um grupo de comediantes, tendo à
frente os jovens José Belisário Viana, João Fernandino Junior e Fernando Pinto
de Azevedo. A estes seguiram outros mais e fundaram o Grupo Dramático “João
Caetano”, em homenagem ao maior ator nacional daquele tempo.
Simultaneamente com os ensaios prolongados de
autênticos dramalhões, então muito em moda, cuidava o Grupo de amealhar
recursos que lhe permitissem a construção de nosso teatro.
A fama do de Sabará corria mundo e nós não poderíamos
vender nossa farinha por menos. Roma não foi feita em um dia.
É muito conhecido o episódio da libertação de
uma escrava, torturada por seu mercador, mediante cotização popular, encabeçada
pelo Dr. João Antônio de Avelar. Tão generosas foram as contribuições que, com
o saldo apurado, os seus promotores resolveram adquirir o velho rancho de
tropas, pouso forçado dos que então faziam o ignomioso comercio.
O acontecimento marcou época e com ele o
nosso povo escrevia uma das poucas páginas que ilustram nossa história. Para o
local do rancho voltaram as atenções dos moços que capitaneavam o “João Caetano”
e o terreno foi cedido ao Grupo, graciosamente, para a execução do plano que
havia arquitetado.
Apenas uma simples ressalva, fizeram os
autores da concessão: que se denominasse “Redenção” o teatro que se propunha a
construir. Assim ficaria perpetuada na memória de nossa gente, a nobreza do
gesto daqueles setelagoanos que tiveram em tão alta conta a dignidade do ser
humano.
Daí a
origem do Teatro Redenção hoje (1959), transformado em sede do Governo
Municipal. Construído por iniciativa do Grupo Dramático “João Caetano”, foi por
este cedido à municipalidade, com a condição de ser o referido Grupo indenizado
das despesas que fizera. Mas esta indenização jamais se fez, segundo afirmou de
uma feita, o sr. Fernando Pinto de Azevedo, mais tarde confirmado pelo sr. José
Belisário Viana, já residente em Pedro Leopoldo. ̶ Vendemos como compramos, esperamos que a
história ratifique ou retifique este acontecimento.
Voltemos
à evolução do nosso teatro, que é o que mais nos interessa, no momento. Em 1908
integravam o Grupo “João Caetano”, além de seus fundadores, Fernando Pinto e
Fernandino Junior, os irmãos deste, Antônio e Raimundo Fernandino, João Antônio
de Avelar Andrade e sua irmã Maria das Dores (Dorica), Antônio Augusto Camões,
Galdino Moura, Sergio Lages e sua irmã Nhasica Lages. A estes elementos aliavam-se,
nos períodos de férias escolares, os estudantes João Alcides de Avelar e João
Batista Campos.
De preferência
o Grupo levava à cena peças do Dr. Avelar, como “Os Homônimos”, “O Lobisomem”, “Acabamento
de Capina” e outras de acentuado sabor popular. Fernandino Junior, cioso da
direção que imprimia a seu Grupo não admitia a introdução de estranhos, pois
nós mesmos fomos “barrados” quando tentamos escalar a sua intransponível muralha.
Nós havíamos regressado do Estado do Espirito Santo, em 1902. Éramos, portanto,
estranhos àquele meio que pontificava com sua arte.
Conformados
com o insucesso de nossa investida, os nossos pendores pela arte não arrefeceram.
Com surpresa para a pequenina cidade surgiu o Grupo Dramático “Melanciense”,
encabeçado por Américo Esteves Rodrigues e seus filhos, Januário e Ricardo. Engrossavam
o elenco os irmãos Sulfumiro e Alzira de Freitas, a srta. Raimunda Franco e Ataíde
Murce. A este Grupo nos filiamos. Os ensaios eram feitos em residências particulares.
O Grupo “João Caetano” relutava em nos ceder o Teatro. O imóvel era dele,
diziam seus diretores. E só depois de muita luta, graças à intervenção diplomática
do Sr. José de Andrade (Zé Lodô), conseguimos estabelecer com nossos ferrenhos
rivais um “modus vivendis”. Penetrávamos afinal, no Teatro que não era nosso...
O resto...depois
contaremos.
Nhô Quim Drummond
domingo, 11 de março de 2018
Biografia de Nhô Quim
Pesquisa baseada no livro de Márcio
Vicente da Silveira Santos – Apontamentos Para a Biografia de Joaquim Dias
Drummond
Joaquim
dias Drummond - Nhô Quim
Nasceu
em Sete Lagoas
no dia 22 de janeiro de 1891
Filho
de João Antonio Drummond e Amaziles Rosalina Vianna Drummond.
Seu
bisavô materno foi o coronel Joaquim Gomes de Freitas Drummond, o primeiro
membro da família Drummond a se estabelecer na região pelos idos de 1833.
Em
1894 a
sua família mudou-se para o Espírito Santo residindo em seqüência nas cidades
de Rio Novo, Iconha, Piuma e Colatina.
Em
1902 (a família) voltou a residir em Sete lagoas.
Nhô
Quim casou-se em 27 de outubro de 1915 com Aida Raposo, filha de José Estevan
Raposo e Antonia de Melo Raposo, família originaria de Prados – MG.
Deste
casamento nasceram dez filhos, sendo que quatro vivem em Sete lagoas.
Nhô
Quim iniciou-se nas primeiras letras na escola do professor Osório Vianna e fez
o curso primário na escola do professor Cândido Maria de Azeredo Coutinho ambos
na cidade de Rio Novo - ES.
Diplomou-se
com distinção no ano de 1904 e neste mesmo ano foi colhido por fato triste e
marcante: a morte prematura do pai aos 42 anos de idade.
Aos
14 anos começou a trabalhar como balconista e em poucos meses aprendeu com o
Sr. Antonio Gregório de Freitas, a profissão de alfaiate.
Em
1909 conseguiu emprego na grande alfaiataria de Pedro Paulo Galoti, o mais
conceituado da capital.
Um ano depois regressou a Sete Lagoas para
montar seu próprio ateliê, a Alfaiataria Central, situada na Rua Silva Jardim
(hoje Monsenhor Messias).
Em
1920 foi nomeado Coletor de Rendas Municipais em ato assinado pelo então
secretario das finanças, João Luiz Alves.
Em
1922 Nhô Quim arrematou em leilão público, a tipografia do Jornal O Reflexo e
inaugurou a seguir a Papelaria e Tipografia Kosmos.
A
sua antiga sede, situada na esquina entre a Rua Teófilo Otoni e a atual Avenida
Lassance Cunha cedeu lugar ao Ed. Vera Cruz, o primeiro “arranha céu” de Sete
lagoas.
Em
1942 iniciou sua carreira bancária ingressando na Casa Bancária Wanderley
Azeredo & Cia, como gerente da agência de Paraopeba.
Após
um ano foi transferido para Jaboticatubas, na mesma função.
Em
1944 a
Casa Bancária foi encampada pelo Banco Industrial de Minas Gerais S.A., e Nhô
Quim foi designado para a agência de Belo Horizonte no cargo de inspetor.
No
ano de 1945 transferiu-se para o Banco da Lavoura de Minas Gerais, instalando
como gerente, a agencia de Sete Lagoas.
Em
1951 ingressou nos quadros do Banco Agrícola de Sete Lagoas, mais tarde Banco
Agrícola de Minas Gerais, do qual se aposentou em 1964.
Joaquim
Dias Drummond era dotado de natureza despojada e cooperativa tendo participado
ativamente da vida da cidade em vários setores.
Foi
vereador, secretario do legislativo municipal, presidido à época pelo Dr.
Zoroastro Passos. Nomeado em 1920, coletor de rendas do município pelo então
secretário de finanças do Estado.
Era
secretario da câmara municipal que foi destituída pela revolução
constitucionalista de 1930 quando também acumulava a função de tesoureiro.
Respondeu pela direção do município entregando-o ao prefeito nomeado para Sete
Lagoas Dr. João Batista Proença Sigaud, que o manteve como colaborador.
Em
1926 foi nomeado pelo juiz de direito, Senhor Amarilio Moreira Pena, promotor
de justiça pelo prazo de trinta dias. Em dezembro daquele ano foi nomeado pelo
governador do Estado, Doutor Antonio Carlos Ribeiro de Andrade, adjunto
promotor de justiça da comarca, cargo que deixou ao ser eleito pela câmara
municipal secretario do poder executivo.
Nhô
Quim foi ainda arbitrador judicial.
Como
colaborador da Igreja e suas instituições Nhô Quim exerceu os cargos a seguir:
Vicentino
da Conferência de Nossa Senhora das Graças
Provedor
da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Matriz de Santo Antonio, em apoio ao
Padre Sanson.
Primeiro
Presidente do Conselho Paroquial de Santo Antonio, em apoio ao Padre Flávio
D’Amato.
Provedor
do Hospital Nossa Senhora das Graças por dois anos.
Secretário
da Comissão Pró Construção do novo prédio para o Hospital Nossa Senhora das
Graças.
Um
dos fundadores da Sociedade de Proteção à Infância e Adolescência (SPIA), da
Paróquia de Santana.
Diretor
Administrativo do Ginásio Dom Silvério.
Editor
do Jornal Católico Alvorada.
Fundador
e primeiro Presidente da Associação Comercial de Barão de Cocais.
Participou
da fundação da Associação Comercial de Sete lagoas como primeiro secretário, e
foi seu terceiro presidente.
Fundou
o Avante Futebol Clube, surgido no mesmo ano que nascia o Democrata.
Foi
vice-presidente do Ideal e alguns anos mais tarde presidente do Democrata por
dois períodos, alem de orador oficial do Bela Vista.
Em
sua trajetória participativa e abnegada Nhô Quim exerceu ainda os seguintes
cargos:
Primeiro
secretário da Liga Operária
Secretario
do S.A. Cine Trianon
Diretor
do Automóvel Clube de Sete Lagoas
Tesoureiro
da Caixa Escolar Cândido Azeredo
Secretario
do Diretório Municipal do Partido Republicano Mineiro
Correspondente
do Banco Mineiro da Produção S.A.
Entusiasta
das artes cênicas ingressou no quadro de amadores do Grupo Dramático Melanciense
e após sua extinção passou a pertencer ao Grupo Dramático João Caetano, o
primeiro de Sete lagoas.
Fundou
com amigos e dirigiu o Grupo Dramático Carlos Goes e o Grupo Dramático Dr. João
Avellar, de efêmera existência.
Mais
tarde exerceu o cargo de diretor do Grupo Dramático Guerra Junqueiro, formado
por operários da Estrada de Ferro Central do Brasil.
Foi
presidente do Centro Cívico Dr. Melo Viana e diretor do Rose Clube de Sete
lagoas.
Foi
ainda diretor da corporação musical Nossa Senhora das Dores quando regida pelo
maestro Orozimbo de Macedo.
Joaquim
Dias Drummond exerceu no jornalismo atividades como fundador, redator e/ou
editor nos seguintes jornais:
Alvorada
Nossa
Terra
Sete
Lagoas
Mensagem
Folha
Cacoense
Foi
ainda colaborador das seguintes publicações:
Acaiaca
A
Ronda
Correio
de Sete Lagoas
Ceres
(jornal dos funcionários do Banco Agrícola)
O
Jornal do Centro de Minas
Publicou
ainda:
História
do Centenário da Paróquia de Santo Antonio
História
do Teatro de Sete lagoas
In
Memoriam (inédito)
Piquetes
Passado
Compassado
Joaquim
Dias Drummond conquistou o Diploma de Mérito Cultural concedido pela Câmara
Municipal de Sete Lagoas.
E
para finalizar a sua brilhante biografia, foi sócio honorário das seguintes
associações culturais:
Clube
de Letras de Sete lagoas
Academia
de Letras de Sete lagoas
UBT
– União Brasileira de Trovadores.
O Teatro em Sete Lagoas
Nesta matéria escrita por Nhô Quim Drummond em 1959, na coluna Piquete do Jornal Mensagem, uma descrição da primeira peça de Teatro apresentada em Sete Lagoas.
Piquetes 07/01/1959
Joaquim Dias Drummond (Nhô Quim)
No último decênio do século passado a cidade se alvoroçara na expectativa de inédito acontecimento!
Precedida de retumbante cartaz, pelos sucessos alcançados no histórico teatro de Sabará, considerado naquela época como uma das mais arrojadas obras arquitetônicas do Estado, aqui chegaria a grande Companhia Dramática de Augusto Fernal.
Na falta de um teatro apropriado para suas representações, os nossos empresários voltaram suas vistas para antigo rancho do sobrado da Praça Tiradentes, único recurso de que poderiam dispor para acolher artistas famosos.
Adaptá-lo para o desempenho de tão alta função foi obra de um instante. O velho rancho se viu, de uma hora para outra, guindado às honras de Teatro Municipal.
Afinal quem vinha nos visitar era uma grande companhia e para tão ilustres hospedes todos os sacrifícios seriam poucos.
Improvisado espaçoso palco que tomava toda a largura do rancho, foi armado imponente cenário que deslumbrava pela magnificência de sua decoração. Na platéia, cadeiras de todos os tipos, obtidas por empréstimos, dos moradores da terra, alinhavam-se com enormes bancos toscos que ainda constituíam o único mobiliário de muita gente boa.
Tais pormenores pouco importariam, uma vez que a casa lotada faria desaparecer, em parte, o grotesco dessa improvisada instalação. O luxo com que os espectadores se dispunham a comparecer supriria, certamente, alguns senões que pudessem ser observados, por olhares menos discretos. As roupas eram fartas e a predominância do elemento feminino far-se-ia notar.
As modistas se afogavam num dilúvio de fazendas finas, no afã de preparar as toaletes mais em moda, naquela época. Um imperativo dominava todas as suas clientes: - a mulher sete-lagoana teria que se apresentar a altura das ilustres damas de Sabará, em tão notável acontecimento.
Os clássicos espartilhos sairiam de suas caixas para adelgaçar muitas cinturas e aprumar outros tantos bustos, já em decadência. Os corpetes recamados de vidrilho, justa-postos com gosto e arte, completariam a indumentária feminina, destacada aqui e acolá pela arrogância das mangas de tufos.
Quanto aos sapatos poucas se preocupavam, porque então tal complemento do vestuário, não gozava das prerrogativas de serem vistos com facilidade.
Os homens, por sua vez, não queriam ficar para trás. Velhas sobrecasacas e fraques debruados foram retirados da morgue de naftalinas e expostos a um banho de sol reparador.
As camisas brancas, de peito duro, brilhavam ao sol, em meio a uma infinidade de punhos e colarinhos engomados a rigor.
Lindas gravatas plaston se destacavam, sob bem talhados coletes filetados com transparentes brancos de seda. Enfim, eles não se apresentariam em dissonância com suas enfatuadas cara-metades.
As jovens, nem se fala, foi um corre-corre para as lojas de modas, em busca de um leque mais flexível ou de um perfume mais inebriante, Não dispunham de batom nem rouge, mas usavam e abusavam do pó de arroz.
Chegou afinal a noite do maior espetáculo da terra! Cavalheiros circunspectos, de braços dados com respeitáveis matronas, transpunham os portões do rancho, empertigados, solenes, como se estivessem galgando as escadarias do Municipal no Rio.
Os jovens trocavam olhares e sorrisos discretos, procurando na platéia pontos mais estratégicos para continuarem com a sinfonia do amor platônico. O que não podiam expressar num tête-à-tête, diziam, pelo código dos leques, transmitindo mensagens de esperanças...
Toda a platéia vivia o seu grande momento. No ar um perfume suave de flores, ornamentando lindas cabecinhas de cabelos fartos, ou um colo palpitante de emoções.
Pequena orquestra, recrutada as pressas, entre velhos cultores da boa musica, tenta a execução de uma sinfonia vibrante.
Abre-se o pano de boca. Os olhares convergem para o palco. Sobre uma platéia, em suspense, desenrolam-se lances de “O Fantasma Branco”...
Aplausos vibrantes e prolongados obrigam os artistas a vir a ribalta e muitas flores caem sobre eles, como o final de uma apoteose.
Augusto Fernal plantara naquela noite memorável a primeira semente do teatro em nossa terra.
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Jornal Mensagem - coluna Piquete - 14/01/1959 Augusto Fernal deixara, em nossa terra, um traço marcante de sua personalidade art...
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Nesta matéria escrita por Nhô Quim Drummond em 1959, na coluna Piquete do Jornal Mensagem, uma descrição da primeira peça de Teatro apr...