Jornal Mensagem - coluna Piquete - 14/01/1959
Augusto Fernal deixara,
em nossa terra, um traço marcante de sua personalidade artística. O seu “Fantasma
Branco” provocou muitas noites de insônia e permaneceu, por longos meses, como
assunto obrigatório de todas as rodas.
Velhos e moços comentavam
o sucesso de sua temporada e não faltou quem se animasse a enfrentar a difícil arte
de Thalia, (Talia; "a alegre", era
uma das nove musas da mitologia grega, filhas de Zeus e Mnemósine, filha de
Oceano e Tétis. Era a musa da comédia. Era representada com uma máscara cômica
e por vezes com uma coroa de hera. Tália a festiva).
Organizou-se um grupo de comediantes, tendo à
frente os jovens José Belisário Viana, João Fernandino Junior e Fernando Pinto
de Azevedo. A estes seguiram outros mais e fundaram o Grupo Dramático “João
Caetano”, em homenagem ao maior ator nacional daquele tempo.
Simultaneamente com os ensaios prolongados de
autênticos dramalhões, então muito em moda, cuidava o Grupo de amealhar
recursos que lhe permitissem a construção de nosso teatro.
A fama do de Sabará corria mundo e nós não poderíamos
vender nossa farinha por menos. Roma não foi feita em um dia.
É muito conhecido o episódio da libertação de
uma escrava, torturada por seu mercador, mediante cotização popular, encabeçada
pelo Dr. João Antônio de Avelar. Tão generosas foram as contribuições que, com
o saldo apurado, os seus promotores resolveram adquirir o velho rancho de
tropas, pouso forçado dos que então faziam o ignomioso comercio.
O acontecimento marcou época e com ele o
nosso povo escrevia uma das poucas páginas que ilustram nossa história. Para o
local do rancho voltaram as atenções dos moços que capitaneavam o “João Caetano”
e o terreno foi cedido ao Grupo, graciosamente, para a execução do plano que
havia arquitetado.
Apenas uma simples ressalva, fizeram os
autores da concessão: que se denominasse “Redenção” o teatro que se propunha a
construir. Assim ficaria perpetuada na memória de nossa gente, a nobreza do
gesto daqueles setelagoanos que tiveram em tão alta conta a dignidade do ser
humano.
Daí a
origem do Teatro Redenção hoje (1959), transformado em sede do Governo
Municipal. Construído por iniciativa do Grupo Dramático “João Caetano”, foi por
este cedido à municipalidade, com a condição de ser o referido Grupo indenizado
das despesas que fizera. Mas esta indenização jamais se fez, segundo afirmou de
uma feita, o sr. Fernando Pinto de Azevedo, mais tarde confirmado pelo sr. José
Belisário Viana, já residente em Pedro Leopoldo. ̶ Vendemos como compramos, esperamos que a
história ratifique ou retifique este acontecimento.
Voltemos
à evolução do nosso teatro, que é o que mais nos interessa, no momento. Em 1908
integravam o Grupo “João Caetano”, além de seus fundadores, Fernando Pinto e
Fernandino Junior, os irmãos deste, Antônio e Raimundo Fernandino, João Antônio
de Avelar Andrade e sua irmã Maria das Dores (Dorica), Antônio Augusto Camões,
Galdino Moura, Sergio Lages e sua irmã Nhasica Lages. A estes elementos aliavam-se,
nos períodos de férias escolares, os estudantes João Alcides de Avelar e João
Batista Campos.
De preferência
o Grupo levava à cena peças do Dr. Avelar, como “Os Homônimos”, “O Lobisomem”, “Acabamento
de Capina” e outras de acentuado sabor popular. Fernandino Junior, cioso da
direção que imprimia a seu Grupo não admitia a introdução de estranhos, pois
nós mesmos fomos “barrados” quando tentamos escalar a sua intransponível muralha.
Nós havíamos regressado do Estado do Espirito Santo, em 1902. Éramos, portanto,
estranhos àquele meio que pontificava com sua arte.
Conformados
com o insucesso de nossa investida, os nossos pendores pela arte não arrefeceram.
Com surpresa para a pequenina cidade surgiu o Grupo Dramático “Melanciense”,
encabeçado por Américo Esteves Rodrigues e seus filhos, Januário e Ricardo. Engrossavam
o elenco os irmãos Sulfumiro e Alzira de Freitas, a srta. Raimunda Franco e Ataíde
Murce. A este Grupo nos filiamos. Os ensaios eram feitos em residências particulares.
O Grupo “João Caetano” relutava em nos ceder o Teatro. O imóvel era dele,
diziam seus diretores. E só depois de muita luta, graças à intervenção diplomática
do Sr. José de Andrade (Zé Lodô), conseguimos estabelecer com nossos ferrenhos
rivais um “modus vivendis”. Penetrávamos afinal, no Teatro que não era nosso...
O resto...depois
contaremos.
Nhô Quim Drummond
Adorei este resgate histórico. E Nho Quim, escreveu mais?
ResponderExcluirOi chará. Sim tenho uma pasta com copias. Vou publicar aos poucos
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